Retenção e Treinamento de Jovens no Ministério: Um Desafio Urgente para a Igreja Pentecostal Conservadora
Introdução
A juventude sempre foi um elemento vital para a saúde, continuidade e
crescimento da Igreja. No entanto, nas igrejas pentecostais conservadoras,
observa-se um fenômeno preocupante: a dificuldade crescente em reter e formar
espiritualmente os jovens. Em vez de um ambiente que encoraja o florescimento
espiritual, muitos deles encontram um espaço de sobrecarga, expectativas
elevadas e até negligência emocional. Este artigo propõe uma análise profunda
sobre as causas desse problema e propõe caminhos de renovação pastoral,
relacional e ministerial.
1. A Juventude na Igreja Pentecostal: Uma Força em Potencial
Desde os primórdios do movimento pentecostal, os jovens sempre foram
agentes ativos nos cultos, nas campanhas evangelísticas, nos círculos de oração
e em ações missionárias. Eles trazem energia, criatividade e paixão. No
entanto, esse vigor tem sido muitas vezes mal administrado. A presença de
jovens não deve ser confundida com funcionalismo. Antes de servir, eles
precisam pertencer, crescer e ser formados.
“Ninguém o
despreze pelo fato de você ser jovem, mas seja um exemplo para os fiéis na
palavra, no procedimento, no amor, na fé e na pureza.” (1Tm 4:12)
Segundo o teólogo Kenda Creasy Dean, em Almost Christian, muitos
jovens abandonam a fé não por falta de doutrina, mas por falta de uma fé que
faça sentido, seja relacional e encarnada no cotidiano. O envolvimento deve vir
como consequência de uma fé genuinamente cultivada.
2. A Cultura da Performance: Quando o Ministério se Torna Peso
Um dos problemas mais recorrentes é a imposição de uma “cultura da
performance”. Muitos jovens, especialmente filhos de pastores e obreiros, são
colocados desde cedo em funções para as quais ainda não foram preparados.
Liderar departamentos, ministrar louvor, ensinar classes ou representar a
igreja em eventos se torna um fardo — e não um privilégio — quando não há
equilíbrio entre chamado, preparo e maturidade.
Essa pressão, muitas vezes vinda dos próprios pais ou líderes, tem
gerado jovens ansiosos, cansados e até mesmo deprimidos. A saúde emocional é
negligenciada sob o argumento de que “quem serve a Deus não pode recuar”,
promovendo um ativismo espiritual tóxico.
“Porque o
meu jugo é suave e o meu fardo é leve.” (Mt 11:30)
John Ortberg, em A Vida Que Você Sempre Quis, alerta que muitos
cristãos confundem ocupação com espiritualidade. Um jovem sobrecarregado tende
a desenvolver uma espiritualidade mecânica e distante do verdadeiro descanso
que Cristo oferece.
3. Filhos de Obreiros: Entre o Altar e o Sofrimento Silencioso
Há um silêncio que clama dentro das igrejas: o clamor dos filhos de
líderes. Muitos deles são vistos como "vitrines espirituais" da
família, obrigados a manter um padrão de santidade exemplar, sem espaço para
dúvidas, falhas ou descanso. São jovens que não foram discipulados com graça,
mas treinados com rigor. Como resultado, tornam-se adultos frustrados ou
abandonam a fé por não suportar a pressão do desempenho religioso.
“Pais, não
irritem seus filhos; antes criem-nos segundo a instrução e o conselho do
Senhor.” (Ef 6:4)
Richard Foster, em Celebração da Disciplina, nos lembra que
disciplina sem graça é tirania, e graça sem disciplina é desordem. Há
equilíbrio no Reino. Precisamos abandonar o mito do “filho perfeito do pastor”
e acolher os filhos de líderes como ovelhas, não como funcionários da igreja.
4. Discipulado Relacional e Acompanhamento Pastoral: Uma Urgência
O discipulado que forma e retém não é feito por planilhas ou escalas,
mas por relacionamentos. A geração atual anseia por autenticidade, por mentores
que caminhem ao lado, por líderes que abram o coração e estejam dispostos a
ouvir.
“Designou
doze, para que estivessem com ele e os enviasse a pregar.” (Mc 3:14)
O modelo de Jesus é relacional. Ele não apressou seus discípulos para
que se tornassem líderes; primeiro os chamou para estar com Ele. Dietrich
Bonhoeffer, em Discipulado, destaca que seguir a Cristo envolve um
caminhar relacional, onde o discipulado exige convivência e não apenas
informação.
5. Outros Fatores que Afetam a Retenção dos Jovens
Além da sobrecarga, outros aspectos contribuem para o afastamento dos
jovens:
·
Legalismo desproporcional: Regras sem relacionamento geram rebelião ou apatia espiritual
“O sábado foi feito por causa do homem, e não
o homem por causa do sábado.” (Mc 2:27)
·
Falta de escuta: Muitos líderes falam, mas poucos ouvem os jovens.
“Todo homem, pois, seja pronto para ouvir,
tardio para falar...” (Tg 1:19)
·
Ausência de representatividade: Jovens querem participar das decisões e ver seus dons valorizados.
“E nos
últimos dias... derramarei do meu Espírito sobre toda carne. Vossos filhos e
vossas filhas profetizarão...” (At 2:17)
·
Tecnologia mal compreendida: Em vez de demonizar a internet, é necessário discipular para o uso
saudável e evangelístico das plataformas digitais.
Craig Groeschel, em Liderando
com Integridade, afirma que as ferramentas mudam, mas o propósito do
evangelho permanece o mesmo. A tecnologia, se bem usada, pode ser uma aliada na
formação espiritual.
6. Caminhos para uma Reforma Ministerial
·
Humanização dos papéis: Jovens não são supercrentes; são humanos com lutas reais.
·
Abertura para diálogo: Criação de espaços seguros para conversas honestas sobre dúvidas,
traumas e desafios.
·
Atenção à saúde mental: Pastores e líderes precisam tratar ansiedade, depressão e burnout como
questões espirituais e também humanas.
·
Preparação intencional.: Formulário antes de colocar para liderar. Equipar antes do envio.
“E o que
de mim, entre muitas testemunhas, ouviste, confia-o a homens fiéis, que sejam
idôneos para também ensinarem os outros.” (2Tm 2:2)
A. Smith ,James K.A. Smith, em You Are
What You Love, enfatiza que a formação espiritual não é apenas racional,
mas afetiva — formamos jovens ao moldar seus amores e práticas, não apenas suas
ideias.
Conclusão: Um Clamor por Sensibilidade e Cuidado
Este artigo não é uma crítica destrutiva, mas um chamado urgente ao
arrependimento pastoral e à renovação do cuidado com nossos jovens. Eles não
são apenas “o futuro da igreja”, mas o presente. Se não os amarmos de forma
autêntica, se não os discipularmos com graça e verdade, os perderemos — não
apenas para o mundo, mas talvez até mesmo para a desesperança.
“Apascentaos meus cordeiros.” (Jo 21:15)
Que o Espírito Santo nos dê discernimento, humildade e ousadia para rever práticas e restaurar corações. Porque, no fim das contas, ministério não é função: é cuidado de almas. E as almas dos nossos jovens clamam por socorro.
Autor
Pastor Hélio Lopes
Pastor Auxiliar no Ministerio MADEJI - Luziânia/Goiás.
Graduado em Gestão de Recursos Humanos
Pós Graduado em Neuro Aprendizagem
Mestre e Doutor em Teologia
*******QUESTIONÁRIO PARA PASTORES E LÍDERES DE IGREJA.
Objetivo: Coletar informações padronizadas sobre as percepções, experiências e práticas dos pastores em relação ao Burnout.
Definição de burnout: Burnout é um distúrbio emocional que se caracteriza por exaustão extrema, estresse e esgotamento
físico, resultante de situações de trabalho desgastantes. É também conhecida como Síndrome do Esgotamento Profissional.
A palavra burnout deriva do verbo inglês to burn + out, que significa "queimar por completo" ou "consumir-se".
RESPONDA NO LINK: {CLIQUE AQUI}
Se você gostou do conteúdo me siga nas redes Sociais!
Siga: @pr.heliolopes - @helio.lopes_
📚 Referências Bibliográficas
BONHOEFFER, Dietrich. Discipulado. São Paulo: Sinodal, 2005.
DEAN, Kenda Creasy. Quase Cristão: O que a fé de nossos adolescentes está dizendo à Igreja Americana . Nova York: Oxford University Press, 2010.
FOSTER, Richard. Celebração da Disciplina: o caminho do crescimento espiritual. 3. ed. São Paulo: Vida, 2007.
ORTBERG, John. A vida que você sempre quis: práticas espirituais para pessoas normais. São Paulo: Vida, 2006.
A BÍBLIA SAGRADA. Tradução: Almeida Revista e Atualizada. Barueri, SP: Sociedade Bíblica do Brasil, 2011.



Comentários
Postar um comentário