# Artigo 3: O Primeiro Ministério: 

A Educação Cristã Começa no Lar

Olá novamente! Seguimos nossa jornada explorando a importância vital da educação cristã. Nos artigos anteriores, estabelecemos os fundamentos bíblicos e fizemos um passeio pela rica história dessa tradição na igreja. Agora, vamos nos concentrar no ponto de partida, no "primeiro ministério" onde a semente da fé é plantada e cultivada: o lar.

Se a educação cristã é um mandato divino, como vimos em Deuteronômio 6, a responsabilidade primária por esse ensino recai sobre os pais. A família é o primeiro e mais influente ambiente de aprendizado para uma criança, e Deus designou os pais como os principais discipuladores de seus filhos. Neste artigo, vamos aprofundar essa responsabilidade, explorar estratégias práticas para o discipulado familiar e pensar em como criar um ambiente doméstico que verdadeiramente nutra a fé e o conhecimento de Deus.

A Responsabilidade Inegociável dos Pais

No mundo agitado em que vivemos, com tantas demandas e influências externas, pode ser tentador terceirizar a educação espiritual dos filhos para a igreja, a escola dominical ou outras instituições. Embora essas estruturas sejam apoios valiosos (como veremos no próximo artigo), elas não substituem o papel fundamental dos pais. A Bíblia é clara ao colocar sobre os pais a responsabilidade principal pela formação espiritual de seus filhos.

Relembremos Deuteronômio 6:6-7: "Estas palavras que, hoje, te ordeno estarão no teu coração; tu as inculcarás a teus filhos...". A ordem é direta aos pais (representados pelo pronome "tu"). O ensino diligente da Palavra de Deus deve começar no coração dos pais e transbordar naturalmente para a vida dos filhos, permeando o cotidiano familiar.

No Novo Testamento, Paulo reforça essa ideia em Efésios 6:4: "E vós, pais, não provoqueis vossos filhos à ira, mas criai-os na disciplina e na admoestação do Senhor." A palavra grega para "criar" (ektrepho) significa nutrir, sustentar, educar. A "disciplina" (paideia) envolve treinamento, correção e instrução moral. A "admoestação" (nouthesia) refere-se ao aconselhamento, à advertência e ao encorajamento baseados na Palavra de Deus. É uma tarefa abrangente que visa formar o caráter e a fé dos filhos segundo os padrões divinos.

         Matt Chandler e Adam Griffin, em seu livro "Discipulado Familiar", argumentam que essa responsabilidade é "um componente vital do que significa ser um pai cristão e está acima de outras responsabilidades parentais" (Chandler & Griffin, [ano, se disponível]). Eles ressaltam que, embora possa parecer uma tarefa assustadora, Deus capacita os pais para cumpri-la através do Seu Espírito e da Sua Palavra. Não se trata de ser um teólogo expert, mas de ser um discípulo fiel que compartilha sua jornada com os filhos.

Assumir essa responsabilidade significa reconhecer que somos os principais modelos de fé para nossos filhos. Mais do que nossas palavras, nossas ações, prioridades e a forma como vivemos o Evangelho no dia a dia terão um impacto profundo em sua formação espiritual. Como diz o ditado, "a palavra convence, mas o exemplo arrasta".

Estratégias Práticas para o Discipulado Familiar

Reconhecida a responsabilidade, como podemos, na prática, discipular nossos filhos no lar? Não existe uma fórmula única, pois cada família é diferente, mas alguns princípios e práticas podem nos guiar:

1. Culto Doméstico Consistente: Separar um tempo regular (diário ou semanal) para ler a Bíblia, orar e conversar sobre a fé em família é fundamental. Não precisa ser algo longo ou complicado, especialmente com crianças pequenas. Pode ser a leitura de uma história bíblica antes de dormir, um devocional curto pela manhã, ou um momento de oração e compartilhamento durante uma refeição. A chave é a consistência e a intencionalidade. O site Discipule.com.br sugere que esses momentos criam "memórias afetivas e espirituais duradouras" (Discipule, 2024).

2. Integrar a Fé ao Cotidiano: O discipulado não se limita aos momentos formais de culto. Como Deuteronômio 6 sugere, devemos falar das coisas de Deus "andando pelo caminho, e ao deitar-te, e ao levantar-te". Isso significa aproveitar as oportunidades do dia a dia – uma conversa no carro, uma pergunta curiosa da criança, um desafio enfrentado, uma notícia na TV – para conectar a vida com a Palavra de Deus e os princípios do Reino. É ensinar a ver o mundo através das lentes da fé.

3. Ser um Exemplo Vivo: Nossos filhos estão sempre nos observando. Como reagimos às dificuldades? Como tratamos os outros? Como usamos nosso tempo e dinheiro? Demonstramos arrependimento e pedimos perdão? Nossa vida é o sermão mais eloquente que pregamos. Viver autenticamente a fé cristã, com humildade e dependência de Deus, é talvez a ferramenta de discipulado mais poderosa.

4. Orar Com e Pelos Filhos: Ensinar os filhos a orar desde cedo, orar com eles sobre suas alegrias e preocupações, e interceder fervorosamente por eles em nossas orações particulares são práticas essenciais. A oração demonstra nossa dependência de Deus e ensina nossos filhos a confiarem n'Ele em todas as circunstâncias.

5. Disciplina com Amor e Sabedoria: A disciplina bíblica (paideia) não é apenas punição, mas treinamento e correção amorosa que visam o bem do filho e o direcionam no caminho certo (Provérbios 22:6; Hebreus 12:11). Ela deve ser aplicada com paciência, firmeza e graça, sempre apontando para a necessidade de Cristo e a oferta do perdão.

6. Envolvimento na Comunidade da Igreja: Incentivar a participação ativa na vida da igreja local – cultos, escola dominical, grupos de jovens, etc. – complementa o discipulado no lar. A igreja oferece um contexto mais amplo de comunhão, aprendizado e serviço, onde os filhos podem ver a fé vivida por outros e desenvolver relacionamentos com irmãos em Cristo.

Criando um Ambiente que Nutre a Fé

Além das práticas específicas, o próprio ambiente do lar pode ser cultivado para nutrir a fé. Isso envolve criar uma atmosfera onde:

  • A Palavra de Deus é valorizada: A Bíblia está acessível? Ela é lida e discutida regularmente? Os pais demonstram amor e respeito pelas Escrituras?
  • O diálogo sobre a fé é aberto e encorajado: As crianças se sentem à vontade para fazer perguntas, expressar dúvidas e compartilhar suas experiências espirituais sem medo de julgamento?
  • O perdão e a graça são praticados: O lar é um lugar onde o erro é reconhecido, o perdão é oferecido e recebido, e a graça de Deus é celebrada?
  • O amor e o respeito mútuo prevalecem: O relacionamento entre os pais e entre pais e filhos reflete o amor sacrificial de Cristo?
  • A hospitalidade e o serviço são cultivados: A família abre suas portas para outros e se envolve em oportunidades de servir ao próximo?
  • A gratidão e o louvor são expressos: Há um reconhecimento constante das bênçãos de Deus e uma atitude de adoração em meio às alegrias e desafios?

     Criar esse tipo de ambiente não acontece por acaso. Exige intencionalidade, oração e a busca constante da direção do Espírito Santo. É um processo contínuo, com altos e baixos, mas cujo fruto é inestimável: filhos que crescem conhecendo e amando o Senhor.

Um Chamado Encorajador

Sabemos que a tarefa de educar os filhos na fé pode parecer esmagadora. Nenhum pai ou mãe é perfeito, e todos nós falhamos. Mas a beleza do Evangelho é que não dependemos de nossa própria força ou sabedoria. Deus nos oferece Sua graça, Seu perdão e Seu Espírito para nos capacitar. O mais importante é o desejo sincero de obedecer ao Seu chamado e a disposição de aprender e crescer junto com nossos filhos.

Que possamos abraçar com alegria e seriedade o privilégio e a responsabilidade de sermos os primeiros e mais importantes educadores cristãos na vida de nossos filhos. Que nossos lares sejam verdadeiros "celeiros" onde a fé é semeada, regada e floresce para a glória de Deus.

No próximo artigo, vamos explorar o papel complementar e indispensável da igreja local como comunidade educadora. Até lá!

Pastor Hélio Lopes

Pastor Auxiliar no Ministerio MADEJI - Luziânia/Goiás.

Graduado em Gestão de Recursos Humanos

Pós Graduado em Neuro Aprendizagem

Mestre e Doutor em Teologia

 

Siga: @pr.heliolopes - @helio.lopes_


Referências Citadas:


CHANDLER, Matt; GRIFFIN, Adam. Discipulado Familiar. Editora Trinitas, [2021].

Discipule. "Discipulado Familiar". Disponível em: https://discipule.com.br/discipulado-familiar/discipulado/. Acesso em: 04/06/2025.

*   Bíblia Sagrada.

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